Daily Archives: Dezembro 22, 2006

Apenas um corpo que mata

Dizem que o teu corpo mata. Eu digo que ele é feito de pedaços de momentos que importam.Momentos simples e concisos. Situações. Apenas isso. Tal como apenas um café na mesa. Apenas um cigarro aceso. Apenas uma luz a piscar. Apenas um leito seco de um rio. Apenas um menino a brincar. Apenas um carro que passa. Apenas uma estrada vazia. Apenas um chapéu abandonado. Apenas uma alga no mar. Apenas uma folha caída. Apenas um som que não se sente. Apenas uma voz surda. Apenas uma noite estrelada. Apenas uma nuvem passageira. Apenas uma música sentida. Apenas um corpo… Um corpo de fragmentos. Fragmentos de um corpo. É esta a matéria do corpo: sonhos e memórias. Sonhos que acordam e memórias que doem… É por isso que dizem que o teu corpo mata. Apenas por isso.

Sonhando

Sonhei hoje com o teu corpo. Não passou de um desejo reprimido que a minha mente exige que se torne real.
Imaginei que me querias; imaginei que me presenteavas e que deliravas com tal ambição.
Sonhei que te entregavas com a paixão e o carinho de outros tempos. Não passou do fruto do meu pensamento inesperado.
Imaginei que tu eras fogo calmante com energia proveniente dos beijos que me roubavas.
Sonhei. Imaginei. Não passou disso…

Re-Invenções

De um corpo solto e desmembrado saltam pedaços de vida e de mundos: esfera de potência que se solta de uma engrenagem; motor ausente da sua semi-existência!
É a carne que toma vida e exige controlo do corpo; re-inventa o sentido carnal e adopta uma postura dominante.
São re-invenções imaginárias vindas de uma mente abstracta e fragmentada…

Mulher Trigueira

Corpo impiedosamente marcado pelas dificuldades inerentes à vida; chicotada psicológicas dadas por quem mais amava e prezava. Foi o ciclo natural da vida: desilusões, sonhos e vivências.
Foi este o passado da mulher trigueira: corpo cansado, tez queimada pelo sol das searas e mãos calejadas pelo trabalho de outrora; esforço de sol a sol, alma molhada pelas chuvas típicas de Verão, pelas desfolhadas e colheitas… Conviveu com homens e mulheres honrados, trabalhadores humildes que muitas lições lhe deram.
Lá está… a mulher trigueira, sentada num banco de pedra junto à eira e que vive hoje os sonhos de uma noite de Verão.