Liga-me amanhã, por favor liga mesmo, liga-me quando estiveres melhor e a fúria te tiver passado. Liga-me logo pela manhã, mal te levantes, fala-me com a voz ainda ensonada e conta-me o que quiseres: que te custou a adormecer, que os lençóis são pequenos demais para a cama, que a noite estava fria
(para a próxima levo-te cobertores).
Não te esqueças, preciso de ficar descansada e ter certeza que não cometeste nenhuma loucura, que tomas o pequeno-almoço em condições, que tratas dessas tuas dores de costas frequentes e que fechas o bico do gás antes de saíres de casa.
Liga-me mesmo que isso te custe, mesmo que tenhas de engolir uns quantos sapos
(toda a gente sabe que é melhor beijá-los),
mas faz esse sacrifício, levanta-te da cama, cura a amargura com uma colher de mel de abelha, vai até ao corredor, pega no telefone
(tens de arranjar um daqueles telefones móveis para teres junto à cabeceira)
o meu número está lá gravado. Não procures no meu nome, tomei a liberdade de te gravar o número em amorzinho, desculpa, eu sei que parece lamechas, mas sabes bem como não gosto do meu nome. Liga para o amorzinho,
– Estou?
e eu pergunto-te se tu estás mesmo, se és igual, se não perdeste nada no caminho para casa, confirma o lugar do fígado, está lá?
– Estou sim,
ainda bem, mas confirma ao fundo das costas se não tens buracos em lugar dos rins,
– Está lá?
estou, estou aqui, já te disse.
– E os rins?,
esses também.
Faz-me esse favor, liga-me logo quando puderes, quando os primeiros raios de sol atravessarem os estores e te acordarem, quando ainda estás meio míope e te custa a encontrar o caminho até ao corredor. Liga-me em jejum, com o cabelo ainda despenteado, com as fraldas do pijama de fora e a luz ainda por acender. Liga-me amanhã cedinho, preciso de saber o que se passou contigo, porque te foste embora assim sem dizer água vai, água vem.
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