O Silêncio (IV)

Se pudesses sequer perceber o mais profundo estado de ansiedade em que me deixaste, talvez as coisas não tivessem seguido este rumo. Sei que fugi de ti, peguei nas malas e parti, ainda deixei alguma roupa no armário, um par ou dois de sapatos ainda ficaram por arrumar, mas fugi. Fugi porque não aguentava mais o silêncio, a dor que me perscrutava diariamente por o meu Amor não ser correspondido, por olhar para ti e não te poder tocar, porque de ti não havia nunca essa permissão, porque no final de contas o que tinhas sentido por mim já havia passado e nunca surgiria de novo. E eu fugi. Fugi, como é costume, porque julguei que estar longe de ti me curaria a dor. E sabes que mais?

– Não cura

Não cura, nem vai curar. Não sara, porque a ferida é profunda. E agora quem partiu foste tu, deitaste fora os pedaços de mim que ainda existiam na nossa casa, talvez um par ou dois de sapatos que atiraste da janela, um casaco ou um top pelas escadas abaixo. E fugiste de mim, fugiste porque não me queres, porque sou velha, porque cometi erros, porque não gostas de mim. E nunca mais me vais voltar.

E sabes que mais?

– Não cura, não cura. A dor é grande demais. Assim como o silêncio.

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Comentários

  • Matt Kane  On Junho 1, 2010 at 9:57 pm

    O silêncio é mesmo muito complicado. Muitas vezes dói mais do que qualquer palavra, muitas outras pode deixar um buraco em quem se cala. Coincidentemente também escrevi sobre o silêncio hoje.

    Mas que coisa, não é? Como ficamos tão dependentes assim das palavras? Os cães, os gatos e os pássaros não vivem felizes sem elas? É um vício nosso. Nos desorganiza completamente: é uma síndrome de abstinência!

  • Rita  On Junho 7, 2010 at 9:46 pm

    Tão pouco silêncio num momento dito “dilacerante”. Que se passa com o meu Tigui ? 🙂

  • Sofia  On Julho 6, 2010 at 6:31 pm

    Saudades de ler estas coisas.

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