A penumbra premeditada, o ambiente enevoado, as colunas extravagantes, tudo era estudado ao máximo, no espaço que carregava o peso das putas. O batom vermelho esborratado, o tom carmim das faces, os trajes andrajosos, a pose, o fumar à entrada, as peles sintéticas sobre os ombros. Tudo na sua atitude, fazia entender que eram putas. Como se isso as fizesse sentir melhores, como se fosse a sua pequena vingaçazinha, o seu gosto. As putas não sorriam. Detinham aquele ar de desprezo, aquele típico aspecto de quem desdenha, de quem é puta.
E os homens a surgir em carreiras, homens de negócios, negócios deixavam-nos lá fora, trabalho é trabalho, conhaque é conhaque. Homens de fato, a desapertar as gravatas, a beber uísques, a sonhar que elas o desejavam. E queriam acreditar nisso, que aquelas mulheres os queriam, que não era do dinheiro. Sobretudo quando gemiam. Os homens queriam acreditar que sim, que elas gostaram deles, que lhes iam pedir para voltar sempre, que pensavam, quem sabe, fugir, que nada era fingido, que o fingimento ali não entrava. Sim, eles gostavam quando elas gemiam. E acreditavam que sim. É melhor sonhar, que viver a realidade.
Sobretudo, porque aquelas mulheres não sorriam. As putas não sorriam. Não, vivem do ar de desdém, como quem não precisa de oxigénio, vivem do desdém dos outros, emanam o seu próprio. Nunca viram o sorriso no rosto de uma puta. Há quem diga que as putas não têm rosto, quanto mais sorriso. E gemiam. Sim, gemiam e acreditavam que sim.