disse-me ela, como se soubesse a verdade por detrás das coisas. E eu, convencido disso, amei-a como se fosse o homem mais solitário do mundo, como se fosse a única pessoa que teria forças para conseguir conter toda a sua energia.
Cansei-me. Sinto solidão, não sinto amor. Dizes-me que são a mesma coisa. Repetes
– O amor é a solidão das multidões
e eu não sei se hei-de acreditar, se devo consultar um dicionário, um prontuário, uma enciclopédia e folheá-los até encontrar a resposta, nem que para isso tenha de gastar as suas páginas.
Consomes-me. Consomes-me por dentro, as energias, uma espécie de turbilhão, de buraco negro que suga. Tornas-te uma espécie de predador de sentimentos, do amor…
(ou devo dizer solidão?)
Não. Já não sei o que é o amor, se devo saber, se é uma espécie de Santo Graal, se nele existe o sentido da vida, se existe vida além do amor (solidão, talvez).
Poderíamos fazer uma dissociação das palavras. Sim, porque a literatura é uma ciência. Dissociarmos o amor da solidão, não ter necessariamente de viver as duas conjuntamente, organizar as duas por estados ou géneros, multiplicarmos a intensidade da primeira e dividirmos a intensidade da segunda.
Meu amor, porque temos de viver em solidão? Não podemos apenas viver em amor? Talvez as multidões não devessem existir. Acho que é melhor dispersar.
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